Carta do 1º Encontro Nacional de Castanheiras e Castanheiros pede reconhecimento e valorização da atividade; leia na íntegra

ENCC1º Encontro Nacional de Castanheiras e CastanheirosColetivo da Castanha
Carta do 1º Encontro Nacional de Castanheiras e Castanheiros
23 a 25 de agosto de 2022


Nós, castanheiras e castanheiros do Coletivo da Castanha representantes de 30 organizações extrativistas, 24 organizações indígenas e 2 organizações quilombolas, vindos de 61 áreas protegidas dos 7 estados produtores da Amazônia, reunidos junto ao Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), à Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), ao Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) e outras 15 organizações de apoio, durante o 1º Encontro Nacional de Castanheiras e Castanheiros, em Manaus, chamamos atenção para a importância do reconhecimento e valorização da nossa atividade.  

Somos castanheiros e castanheiras da Amazônia, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, povos da floresta que tiram seu sustento preservando a vida. Adentramos a floresta por meses, com nossas famílias, enfrentando obstáculos e riscos enquanto preservamos tradições e modos de vida milenares para coletar a castanha que chega nas mesas das famílias brasileiras e pelo mundo afora. Contribuímos para que, não só nossos filhos e netos, mas também os filhos e netos de todo o planeta possam ter ar puro para respirar, comida saudável para se alimentar e água pura para beber.

Somos mais de 60 mil castanheiras e castanheiros espalhados pela Amazônia. Produzimos mais de 30 mil toneladas de castanha por ano, um mercado que movimenta mais de R$ 2 bilhões no país, e está entre os 3 principais produtos extrativistas da região amazônica. É comida saudável e sem veneno que garante a segurança alimentar de milhões de pessoas. Enfrentamos ameaças das atividades ilegais na Amazônia como o garimpo, a grilagem de terras, o desmatamento, o tráfico, as invasões aos nossos castanhais e áreas protegidas, atividades que crescem cada vez mais graças ao desmonte dos órgãos fiscalizadores.

Atividades que hoje são incentivadas pelo Governo Federal, que insiste em fingir que a emergência climática não existe e que promove a destruição como modelo de desenvolvimento. O mundo clama pela floresta em pé e somos nós os guardiões dessa riqueza.

Nós, populações castanheiras extrativistas, tornamos públicas nossas denúncias e reivindicações pela garantia e segurança dos nossos territórios, lutamos por preços justos que reconheçam os serviços ambientais que prestamos à humanidade e o fortalecimento e atualização das políticas públicas de incentivo à agricultura familiar e extrativismo, atentando às especificidades dos povos da floresta. Enquanto o Governo Federal despeja bilhões em subsídios para o agronegócio, o extrativista é invisibilizado. Esse quadro precisa ser revertido.

Nesse contexto, denunciamos:
  • A ausência do Estado na proteção a nossos territórios e nossas lideranças, que vivem sob constante ameaça;
  • O desmonte proposital do ICMBio, da FUNAI, do IBAMA, do INCRA e diversos outros órgãos estatais responsáveis pela defesa de nossos direitos e da natureza;
  • O descaso e o incentivo do Poder Público à destruição da Amazônia, à invasão de nossos territórios e à grilagem de terras públicas;
  • A atuação do Poder Legislativo, principalmente por meio das Bancadas do Boi, da Bala e da Bíblia, que buscam destruir nossos direitos obtidos à custa de muita luta, sangue e lágrimas;
  • O veto do Presidente da República, Jair Bolsonaro, ao reajuste ao PNAE;
  • O Projeto de Lei 2633/2020 e PL 510/2021, que defende a grilagem de terras;
  • O Projeto de Lei 490/2007, que defende o Marco Temporal;
  • O Projeto de Lei 191/2020, que defende o garimpo em Terras Indígenas;
  • O Projeto de Lei 6299/2002, o Pacote do Veneno;
  • O Projeto de Lei 3729/2004, que fragiliza o licenciamento ambiental;
  • O Projeto de Lei 6024/2019, que reduz a área da RESEX Chico Mendes e modifica a categoria do Parque Nacional da Serra do Divisor;
  • O Projeto de Lei 313/2020, que permite a criação de gado dentro de RESEX;
  • E todos os projetos de lei atualmente em vigor que buscam a extinção ou diminuição de áreas protegidas.

A consolidação dos territórios tradicionais é imprescindível para o desenvolvimento da Amazônia. As economias da sociobiodiversidade se sustentam por parcela relevante da vida que pulsa pelas matas e rios amazônicos. Promover e impulsionar as cadeias produtivas de produtos florestais, como a castanha, é valorizar os modos de vida de povos e populações tradicionais, gerando renda e protegendo a maior biodiversidade do planeta. Questões financeiras, de infraestrutura, logísticas, tributárias, de qualidade, de abertura de mercados, de preços justos e políticas públicas são essenciais para desenvolver a cadeia produtiva da castanha da Amazônia, para gerar bem estar social, desenvolvimento econômico e a conservação da floresta.

Exigimos:
  • O reconhecimento e a regularização de nossos territórios tradicionais;
  • O fortalecimento dos órgãos fiscalizadores para proteção de nossos territórios;
  • A criação, atualização e fortalecimento das políticas públicas voltadas à proteção de nossos direitos e ao fomento à agricultura familiar e à produção extrativista, particularmente ATER, PRONAF, PAA, PNAE, Compras Institucionais, e PGPM-Bio.
  • A melhoria da regulação e do conjunto de políticas voltadas para melhorar o ambiente de negócios na cadeia da castanha, incluindo a melhoria da infraestrutura logística e de qualidade, diferenciação tributária, compromissos de comércio justo e relacionamento ético pelo setor privado comprador de castanha, formação profissional e fortalecimento das capacidades para a base comunitária e prestadores de serviços, Pesquisa e 
  • Inovação, política de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).

Diante dessa realidade, reafirmamos à sociedade e aos órgãos governamentais que o Coletivo da Castanha seguirá se organizando para ampliar a aliança dos povos da floresta, lutando por justiça social e pelo direito à vida, e se mantendo aberto a contribuir com a concepção de um novo modelo de desenvolvimento que respeite as pessoas e a natureza.

Viva a castanha, viva a Amazônia, viva os povos da floresta!


Assinam esta carta:
AATBT - Associação Agroextrativista e Turística da Barra do Tapajós
ACAJE - Associação Mista Agrícola Extrativista dos Moradores da Comunidade Jaramacaru e Região
ACCPAJ - Associação de Coletores de Castanha do Brasil do PA Juruena
ACORQUE - Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Erepecuru
AGUAPÉ - Associação dos Seringueiros do Vale do Guaporé
AIABA - Associação Indígena Abanatsa
AIPX - Associação Indígena Pyjahyry Xipaya
AIWA - Associação Indígena Wai Wai da Amazônia
AIMURIK - Associação Aimurik
AMALCG - Associação de Moradores Agroextrativistas do Lago do Capanã Grande
AMARR - Associação dos Moradores Agroextrativistas Guariba Roosevelt
AMEJP - Associação dos Moradores, Pescadores e Produtores Familiares Rurais da Vila Extrativista de
Joana Peres
AMEPP - Associação dos Moradores e Entorno da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu
Purus
AMORARR - Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt/Rio Guariba
AMOREAP - Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Arioca-Pruanã
AMOREMA - Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Mapuá
AMORU - Associação dos Moradores do Rio Unini
APADRIT - Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio Ituxi
APAFE - Associação dos Moradores e Produtores Agroextrativistas da Flona de Tefé e Entorno
APITC - Associação dos Produtores Indígenas da Terra Caititu
APIW - Associação do Povo Indígena Wai Wai
APIWX - Associação dos Povos Indígenas Wai Wai Xaary
APROMOVA - Associação Comunitária de Trabalhadores Rurais, Extrativistas, Hortifrutigranjeiros da
Comunidade Morada Nova do Jari
ASAEX - Associação dos Seringueiros e Agroextrativistas do Rio Ouro Preto
ASIBV - Associação da Aldeia Barranco Vermelho
ASMACARU - Associação dos Moradores Agroextrativistas das Comunidades São Raimundo, Pedra Branca, Cafezal, Recreio e Panamã do Rio Parú
ASMIPPS - Ass.dos Mini e Pequenos Produtores Rurais e Extrativistas da Comunidade Repartimento
dos Pilões
ASPAC - Associação dos Produtores Agroextrativistas de Canutama
ASROP - Associação dos Seringueiros da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto
ASSIZA - Associação Indígena Zavidjaj Djigúhr
ASSOAB - Associação dos Produtores e Beneficiadores Agroextrativistas de Beruri
CCM - Comitê Chico Mendes
CGPH - Conselho Geral do Povo Hexkaryana
CIR - Conselho Indígena de Roraima
COIAB - Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
COMARU - Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru
COOBA-Y - Cooperativa Kayapó de Produtos da Floresta
COOBEPAM - Cooperativa dos Beneficiadores de Produtos Agroextrativistas de Amaturá
COOMADE - Cooperativa de Agroextrativismo do Médio e Baixo Rio Madeira
COOMARU - Cooperativa Mista Agroextrativista do Rio Unini
COOPAFLORA - Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte
COOPAVAM - Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer
COOPEAMUWAYDIP - Cooperativa de Produção e Extrativismo Sustentável da Aldeia Munduruku -
Awaydip
COOPERAPIZ - Cooperativa de Producao do Povo Indigena Zoró
COOPERAR - Cooperativa Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus
COOPERIACO - Cooperativa Agroextrativista dos Produtores Rurais do Vale do Rio Iaco
COOPERMANN - Cooperativa dos Catadores de Castanha Nativa Etnia Cinta Larga da Terra Indígena
Aripuanã
COOPERVEKALA - Cooperativa de Produção e Extrativismo Sustentável da Floresta Indígena Vekala Igarapé Lourdes
COOPESFPIAM - Cooperativa de Produção e Extrativismo Sustentável da Floresta do Povo Indígena
Apiaká da Aldeia Mayrob
COOPESFPIKAT - Cooperativa de Producao e Extrativismo Sustentavel da Floresta do Povo Indigena
Kayabi Kawaiwete da Aldeia Tatui Pira Y
COVEMA - Cooperativa Verde de Manicoré
CNS - Conselho Nacional das Populações Extrativistas
CWP - Centro Cultural Indígena Paiter Wagôh Pakob
IM - Instituto Munduruku - Organização e Associação do Povo Munduruku de Mato Grosso
KARO PAYGAP - Associação Karo Paygap
KAWAIWETE - Associação Indígena Kawaiwete
PASAPKAREEJ - Associação do Povo Indígena Cinta Larga
TSIRIK - Associação Indígena Rikbaktsa Tsirik
AFP - Associação Floresta Protegida
CONEXSUS - Instituto Conexões Sustentáveis
FVA - Fundação Vitória Amazônica
IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil
IMAFLORA - Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas
ISA - Instituto Socioambiental
ISPN - Instituto Sociedade População e Natureza
MCM - Memorial Chico Mendes
NESsT
OCA - Observatório Castanha-da-Amazônia
OPAN - Operação Amazônia Nativa
ÓSocioBio - Observatório da Economia da Sociobiodiversidade
Pacto das Águas
WWF-Brasil

Manaus, 25 de agosto de 2022